O nosso corpo é o habitat de milhares de milhões de microrganismos. Ao contrário do que estamos habituados a pensar, a grande maioria destes não é prejudicial à saúde, sendo, na verdade, indispensável ao nosso bem-estar e sobrevivência. O conjunto das comunidades que colonizam o nosso corpo constitui o microbioma humano.

Recentemente, os cientistas começaram a associar o microbioma à saúde mental, reportando que as bactérias que habitam o nosso intestino têm um impacto relevante no cérebro.

Mas como é isto possível? A comunicação entre o intestino e o cérebro é feita através de um conjunto de mecanismos que constituem o “eixo intestino-cérebro”. Este eixo consiste na comunicação bidirecional entre estes dois órgãos, que é feita através de estímulos nervosos e de neurotransmissores. Pensa-se que as bactérias comunicam diretamente com o cérebro através da estimulação do nervo vago, que percorre o corpo humano do cérebro ao abdómen, e indiretamente através da produção de neurotransmissores (como dopamina, serotonina, entre outros) e de outros metabolitos microbianos (como ácidos gordos de cadeia curta), interagindo também com os nossos sistemas imunitário e endócrino. Quando o microbioma se encontra em disbiose, ou seja, em desequilíbrio, com espécies benéficas em défice e espécies prejudiciais em excesso, esta interação pode levar a um estado inflamatório generalizado e induzir a produção de hormonas associadas à ansiedade, como o cortisol.

Existem várias revisões que compilam os estudos que relacionam o microbioma com a saúde mental em humanos, como a de Groen et al. e a de Järbrink-Sehgal et al. (1, 2).

A Depressão é um problema de saúde mental que parece estar relacionado com um desequilíbrio do microbioma. Vários estudos reportam um aumento da abundância de bactérias tipicamente patogénicas, como as pertencentes aos filos Protobacteria e Firmicutes, e uma diminuição de bactérias benéficas, como Bifidobacterium (3, 4, 5).

De igual modo, o microbioma parece também influenciar a Ansiedade, verificando-se um aumento de Bacteroides e Escherichia-Shigella, espécies tipicamente patogénicas, e uma diminuição da abundância de Bifidobacterium (2, 6).

O Espetro do Autismo também parece estar associado a um desequilíbrio do microbioma, verificando-se um aumento da abundância de várias espécies de Clostridium e Proteobacterium e uma diminuição de outras, como Bifidobacterium (7, 8, 9, 10).

Mais resultados podem ser consultados nas revisões (1, 2).

Tratando-se de uma área de investigação muito recente, o número de estudos disponíveis ainda é muito limitado, embora esta seja um tema de grande interesse para a comunidade científica.

Se achou este tema interessante, não perca a oportunidade de participar no nosso projeto! 

Referências
  1. Groen, R. N., de Clercq, N. C., Nieuwdorp, M., Hoenders, H. J. R., & Groen, A. K. (2018). Gut microbiota, metabolism and psychopathology: A critical review and novel perspectives. Critical Reviews in Clinical Laboratory Sciences, 55(4), 283–293.
  2. Järbrink-Sehgal, E., Andreasson, A. (2020). The gut microbiota and mental health in adults. Current Opinion in Neurobiology, 62, 102–114.
  3. Lin, P., Ding, B., Feng, C., et al. (2017) Prevotella and Klebsiella proportions in fecal microbial communities are potential characteristic parameters for patients with major depressive disorder. J Affect Disord, 207:300–304.
  4. Jiang, H., Ling, Z., Zhang, Y., et al. (2015) Altered fecal microbiota composition in patients with major depressive disorder. Brain Behav Immun, 48:186–194.
  5. Aizawa, E., Tsuji, H., Asahara, T., et al. (2016) Possible association of Bifidobacterium and Lactobacillus in the gut microbiota of patients with major depressive disorder. J Affect Disord, 202:254–257.
  6. Chen, Y.H., Bai, J., Wu, D., Yu, S.F., Qiang, X.L., Bai, H., Wang, H.N., Peng, Z.W. (2019) Association between fecal microbiota and generalized anxiety disorder: severity and early treatment response. J Affect Disord, 259:56-66.
  7. Song, Y., Liu, C., Finegold, S.M. (2004) Real-time PCR quantitation of clostridia in feces of autistic children. Appl Environ Microbiol, 70:6459–6465.
  8. Parracho, H.M., Bingham, M.O., Gibson, G.R., et al. (2005) Differences between the gut microflora of children with autistic spectrum disorders and that of healthy children. J Med Microbiol, 54:987–991.
  9. Son, J.S., Zheng, L.J., Rowehl, L.M., et al. (2015) Comparison of fecal microbiota in children with autism spectrum disorders and neurotypical siblings in the Simons simplex collection. PLoS One, 10:e0137725.
  10. Kang, D., Adams, J.B., Gregory, A.C., et al. (2017) Microbiota transfer therapy alters gut ecosystem and improves gastrointestinal and autism symptoms: an open-label study. Microbiome, 5:10.

3 Thoughts on “Microbioma e Saúde Mental: O que nos diz a Ciência”

  • Tenho 79 anos. Acho fascinante os novos desafios que se põem à comunidade científica. Será possível obter nformação mais pormenorizada sobre a participação neste estudo?

    • Boa tarde,
      Antes de mais, muito obrigado pelo seu interesse no projeto!
      A informação relativa à participação no estudo encontra-se na página “Participe” do nosso site.
      Para qualquer dúvida específica, não hesite em contactar-nos!

  • Boa tarde,
    Então está me dizendo que há uma previsão de melhora para uma depressão major, através do meu microbioma?
    Dá-nos esperança pensar que sim.

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