Nos últimos anos, tem-se verificado um aumento da literatura em torno da investigação realizada sobre a comunicação entre o intestino e o cérebro moderada pelo microbioma, o chamado eixo microbiota-intestino-cérebro.

Esta comunicação é modulada por vários mecanismos, nomeadamente nervosos, endócrinos e imunitários(1). A microbiota interage com o cérebro através de moléculas neurologicamente e biologicamente ativas, para além de influenciar o sistema imunitário (e a inflamação) através de metabolitos por ela produzidos e que interferem com a barreira intestinal. Estas moléculas são também capazes de modular a comunicação com estruturas cerebrais(2). Tendo em conta a importância desta comunicação, torna-se vital estudar os diversos fatores que impactam a microbiota. Alguns exemplos são os fármacos, o estilo de vida (atividade física, etc.), genética, entre outros. A alimentação em particular tem-se mostrado um dos fatores de maior impacto na microbiota e, consequentemente, nas moléculas que esta produz.

No artigo de revisão de J. Horn et al.(1), que compila diversos estudos científicos, os autores destacam o impacto da dieta na composição, riqueza e função da microbiota e o seu consequente efeito na estrutura e função cerebrais e, por conseguinte, na saúde mental. Os metabolitos produzidos pelas bactérias são um dos focos do artigo, uma vez que estes poderão ter função anti- ou pró-inflamatória. Por exemplo, um padrão alimentar saudável, equilibrado e diversificado, como a Dieta Mediterrânica, pode promover o aumento de estirpes bacterianas produtoras de metabolitos anti-inflamatórios, como os ácidos gordos de cadeia curta, prevenindo assim o estado de endotoxemia metabólica (associado ao aumento de marcadores de ativação imunológica sistémicos). Isto pode também ser potencialmente conseguido com a administração de pré-bióticos; isto é, alimentos que contenham fibra e/ou nutrimentos (como polifenóis e oligossacarídeos), com efeito promotor do crescimento de estirpes bacterianas com benefício para o hospedeiro.

Os metabolitos produzidos pela microbiota são ainda capazes de estimular a secreção de serotonina nas terminações nervosas, promovendo assim a sua circulação sistémica. Os autores destacam que a estimulação das terminações nervosas poderá gerar sinais nas áreas cerebrais associadas a funções de grande importância, como o apetite, regulação do sono, e até regulação emocional, contribuindo assim para a nossa saúde mental.

Mais do que os nutrientes isoladamente, os autores mencionam que uma alimentação variada e rica em fibra (através da ingestão de cereais inteiros, produtos hortícolas, leguminosas e frutos gordos),   polifenóis (através de produtos hortícolas, fruta, frutos gordos e azeite extra virgem) e micronutrimentos (como o zinco, folato, vitaminas do complexo B) e de ácidos gordos polinsaturados n-3 (provenientes do peixe gordo e dos frutos gordos e oleaginosos) e aminoácidos específicos (provenientes de alimentos fornecedores de proteínas) é capaz de modular positivamente a composição microbiana e os seus metabolitos, melhorando, consequentemente, os restantes fatores que têm impacto na saúde cerebral, como a endotoxemia metabólica e a inflamação e contribuindo para a nossa saúde mental e bem estar.

Texto da autoria de Rita Cassilda Ribeiro (nutricionista estagiária, 4136NE)

Referências

  1. Horn J, Mayer DE, Chen S, Mayer EA. Role of diet and its effects on the gut microbiome in the pathophysiology of mental disorders. Translational Psychiatry. 2022; 12(1):164.
  2. Ribeiro G, Ferri A, Clarke G, Cryan JF. Diet and the microbiota – gut – brain-axis: a primer for clinical nutrition. Curr Opin Clin Nutr Metab Care. 2022; 25(6):443-50.
  3. Cryan JF, O’Riordan KJ, Cowan CSM, Sandhu KV, Bastiaanssen TFS, Boehme M, et al. The Microbiota-Gut-Brain Axis. Physiol Rev. 2019; 99(4):1877-2013.

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